zé limeira, orlando tejo, pavoa devoradora

Romance das Profecias

ou da Nuvem Devastadora

pavoa devoradora, zé limeira, orlando tejo, poeta do absurdo




INTRODUÇÃO

I

Dormindo tranquilamente

Sonhei, parece que via,

Uma festa popular

Muita gente na folia

Ouvi o som da viola

Percebi ser cantoria

Um violeiro ao centro

Cantava com maestria

Coisa que ninguém pensava

E que eu desconhecia

Um dizia na plateia:

"-Cantando filosofia!"

Outro com a mão na boca

Falava: "-Virgem Maria!!!"

Primeiro falou de coisas

Anúncios de profecia

Moisés abrindo o mar

E fazendo a travessia

E a Arca de Noé

Com cada animal que havia

Dos vulcões do estrangeiro

E tudo o que existia

Falou também de desastres

Que muito santo previa

No dedilhar da viola

Com voz que estremecia.

II

Foi uma hora e meia

De rabicho arrochado

Como cantiga de grilo

Quando o chão está molhado

E em um folego só

Entregava seu recado

Parecia ser do céu

O cantador enviado

Alertava a humanidade

Que pelo tempo passado

Pelas coisas que se deram

Por atual resultado

Não aguardem coisa boa

Pois o momento chegado

A nuvem devastadora

Vem cumprir o esperado

Destruir de chão abaixo

Até o solo sagrado

Queimando palmos de terra

Um a um será contado

Sendo sete, a quantia

Para um solo renovado

Só assim o Salvador

Que vem por Deus enviado

Descerá, e entre o seus

Dirá: "- está consumado!"

III

Eu ouvi o cantador

De supetão acordei

Tomei lápis e papel

E tudo quanto lembrei

Escrevi para o registro

E tudo aqui anotei

Minhas desculpas, leitor,

Se esqueci ou errei,

Se me faltou a memória

Ou se eu me enganei,

Se pulei alguma frase,

Dos versos que captei

Se troquei qualquer palavra

Ou se mal interpretei

Se quebrei o pé do verso,

Se rimas não combinei

Não foi a minha intenção

Não é essa a minha lei

Espero ter registrado

Tudo como escutei

E que a humanidade

Siga os caminhos do Rei

E a nuvem devastadora

Que aqui mencionei

Seja apenas um sonho

Dentre tantos que sonhei.


RECOMENDAÇÕES:

I

Só depois de desfiar

Rosário em oração

Entregar-se inteiramente

Ao "Padim Cíço Rumão"

É que se pode contar

Com total exatidão

Essa história assombrosa

Que traz em si maldição

Vem do começo do mundo

- Assim diz o Alcorão -

É quando remete a Deus,

- O Autor da Criação -,

E o mal de Satanás,

Sua inveja e ambição.

E por isso não se deve

Iniciar esta ação

Ignorando os ritos

Esquecendo a oração

Rezar a todos os santos

Com fé e convicção

Pois esse romance traz

Atraso, destruição

Somente a fé em Deus

Pode dá a salvação

Com o auxílio divino

Da mais potente oração

De cada santo eleito

Que pode dar proteção

Àquele que este romance

Ler com total atenção.

II

Depois de rezar ao santo

Ao qual se tem devoção,

Lançar preces confiantes

Ao "Padim Ciço Rumão"

O orador do romance

Estando em séria feição

Deve fechar os seus olhos

E crente da vocação

Ignorar a presença,

De qualquer assombração

Pois a morte despeitada

Prevendo revelação

Vai apresentar horríveis

Cenas de inquietação

A fim de atrapalhar

A rota da descrição

Se assim não proceder

Será grande confusão

Não estando protegido

Por poderosa oração

A morte lhe cobrará

Sem dispensar um tostão

Sua foice assassina

Que vence toda questão

Descerá sem piedade

E com muita precisão

Por cima do orador

Que não prestou atenção

Aos dizeres do romance

Em sua apresentação

III

Só a meia noite em ponto,

(Quando a morte se ausenta)

É que se abre um portal

Uma brecha se rebenta

Para cantar o romance

Aquele que representa

Tem a proteção divina

Pela hora agourenta

O portal da meia noite

A morte jamais frequenta

Eis aí o ponto cego

Para a canção violenta

Que fala de maldições

E de batalha sangrenta

Recorda tristes catástrofes

Coisas que o mundo lamenta

Relata atrocidades

Que na verdade sustenta

Dá suporte, embasamento,

É quem tanto alimenta

Futuro que logo chega

E que jamais nos isenta

Fome, morte, peste, guerra,

Desgraça que nos frequenta

Também toda maldição,

Situação espinhenta

Agrados próprios do mal

E que só ao mal contenta

Só depois da meia noite

É que isto se apresenta.

IV

E o segredo da morte

Está no portal, na fenda,

Aberta a meia noite

Todo dia a mesma agenda

Não é história contada,

Não é mito, não é lenda.

O segredo é na ponta

Ou no início, na emenda.

Há quem haja avistado

Visagem ou coisa horrenda

E a hora da meia noite

Pouco tempo se estenda,

Ninguém pode duvidar

Mesmo que não compreenda

É o segredo da morte

Bem guardado como prenda

A morte jamais perdoa

Quem seu segredo desvenda

E quem assim proceder

Se mete em grande contenda

No feito não ganha prêmio

E não recebe comenda

Se o mundo descobrir

Meia noite há uma senda

Que abre como portal

E os olhos da morte venda

Não morrerá um vivente

Nem mesmo por encomenda

A foice não cortará

Findará a sua renda.

V

Revelado este segredo

Que todos podem ouvir

Há que se certificar

Se acabou de partir

Aquela que nunca pode

Este segredo ouvir

Ouvindo não tardará

E há de querer punir

O delator do segredo

Sua hora de agir

Nunca foi ludibriada

Sempre pode decidir

Nunca deixa sem resposta

Quem se desata a pedir

A sua fria presença

O seu beijo pra partir

Sua foice afiada

Nunca se negou ferir,

Mesmo sob a desculpa,

De qualquer ato infringir

Para dar a liberdade

De a morte reagir

E pagar com o seu beijo

A conta que contrair

Aquele que não percebe

Que ela ronda ali

Buscando mais um vivente

Para aos seus aderir

Somando na sua terra

Aqui a subtrair.

VI

Rezando ao "Padim Ciço"

Pode trazer salvação

Porque foi esse em vida

Modelo de devoção

Um confiante em Deus

Que viveu em retidão

Só foi vencido no fim

Para cumprir a missão

De somente Jesus Cristo

Chegar à ressurreição

E por ser fiel devoto

Modelo de perfeição

Pode interceder a Deus

Advogar na questão

A morte não poderá

Outra coisa fazer não

Deve então dar balanço

E com fiel atenção

Conferir a caderneta

Fechar sua operação

Subtraindo aqui

Somando em sua nação

Ignorando orador

Que de joelhos no chão

Olhos cerrados, atento,

Com a viola na mão

Declamar em tristes versos

Histórias de assombração

Da nuvem devastadora

E sua destruição.


A QUEDA

I

Deus criando o mundo

Fez tudo do seu agrado

Foi quando então percebeu

Um anjo Seu rebelado

Tentando a todo custo

Conseguir o planejado

Tomar-Lhe todo o poder,

Inversão do já criado.

Mas Deus é sábio profundo

E não foi ludibriado

Tomando as providências

Ordenou muito apressado

Que o anjo mal descesse

Para lugar reservado

E fosse acompanhado

Dos que trazia do lado

E tão logo dito isto

Tão logo assim ordenado

Desceram todos os anjos

Um grupo exagerado

Mais descia, mais havia

Instrutores do pecado.

E Deus ordenou a queda,

Não se fez preocupado

Descessem todos aqueles

Contrários ao seu reinado,

Até que o imprevisto

Deu-se em solo sagrado

Miguel, o Chefe Maior

Fez um pedido ousado.

II

O Arcanjo São Miguel

Do Exército Sagrado

Já pensando no futuro

Viu-se então obrigado

A pedir ao Rei da Glória

Clemência no seu tratado

Pois cada anjo caído

Seria mais um soldado

Na Batalha pelo mal

Tanto anjo revoltado

Quisesse Deus, já bastava,

Tanto anjo desgraçado

Deus tendo compaixão

Atendeu seu soldado

Os anjos que não desceram

Ficaram no ar parado

Quem desceu está na Terra

Fazendo só desagrado

Tudo isso está escrito

Está tudo registrado

Como se deu o início

Está no Livro Sagrado.

A Terra, desde então

Tudo está desgraçado

A mulher pecou primeiro

E o homem ao seu lado

E veio a humanidade

Provando sempre o pecado

O Diabo tomando conta

Com ares de potentado.

III

Satanás está presente

Onde há o mal fincado

E por todos os lugares

Desmanchando o planejado

Incentivando a discórdia

Plantando o desagrado

Negando Deus e os anjos

E desmentindo o legado

Dado pelo Criador

Sempre, sempre de bom grado

Para vivermos felizes

Assim é do seu agrado

O Diabo tudo vê,

E vive entrelaçado

Só quer o homem sofrendo

Pela lama do pecado

Maculado pela culpa

Do mal já patrocinado

Cada vez mais pesaroso

Sempre mais preocupado

O homem vai afundando

Ficando mais atolado

Preso às garras do diabo

Senhor de todo pecado

E das maldições do mundo

Que ao diabo foi dado

Para que seja senhor

E que tenha o cuidado

E na reunião dos mundos

Por ele representado.

IV

Está nas mãos do iníquo

Terra e humanidade

Desde quando a serpente

Ludibriou a verdade

Embaraçou a mulher

E com desonestidade

Sua astúcia tamanha

Arquitetou a maldade

Nasceu assim o pecado

O mal e a crueldade

A desonra, a soberba

Inveja e falsidade

O Pai Todo Poderoso

Com toda sinceridade

Deu o governo da Terra

E deixou bem a vontade

Ainda com o maligno

Repousa o mundo covarde

Que se deixou ser levado

Por esta fatalidade

O homem perdeu a graça

Perdeu a vitalidade

Perdeu também a moral

Perdeu a autoridade

Segue o caminho traçado

Pelo pai da iniquidade

O mundo desde então

Na sua totalidade

Entregou-se inteiramente

A toda imoralidade.

V

Tudo o que há no mundo

O homem desvirtuou

Dando a outra versão

As coisas que Deus criou

Blasfemando a palavra

Mudando o que deixou

Negando todo instante

O que Deus lhe ensinou

Ouvindo a voz do diabo

Que o mal sempre pregou

Em dois caminhos que há

Que desde sempre ficou

O homem seguiu o mal

O que sempre procurou

E Deus disse, garantiu,

Prometeu, assegurou

Disse não interferir

Pois o homem optou

Cada um deve escolher

O que tanto conquistou

E só no dia final

Como já se avisou

Será cada um julgado

Conforme se praticou

Cada caminho seguido

Conforme se acreditou

Terá seu preço cobrado

Conforme o que se comprou

Do julgamento final

Não se livra quem errou.

VI

Se achando satanás

Com o mundo em sua mão

Toda espécie de praga

Ofertou à criação

Toda sorte de doença

Desgraça, escuridão

A fome, a dor, a peste,

Loucura, devassidão,

Miséria desenfreada

Maldade, contravenção

Febres de todos os tipos

Dizimará a nação

Então o fim será trágico

Da civilização

De país para país

Pela colonização

Tanto se espalhará

Rastro da destruição

Pestes de todos os tipos

Quantos milhões matarão

Epidemias sem fim

De nação para nação

Para bicho e para gente

Em toda embarcação

Que navegar pelas águas

Que faz a imensidão

E continentes inteiros

Por socorro gritarão

Gente jogada em vala

Pois covas não conterão.


A MORTE

I

Quando criada a morte

Por Deus Pai, Criador,

E assim recompensar

Todo e qualquer pecador

Deu a maior incumbência

É grande o seu valor,

Mas não a fez infalível

Ela tem superior

A sua foice assassina

Que causa grande temor

Não desce em qualquer cabeça

Sem ordem anterior

No entanto, ordenada,

Está sempre ao dispor

Depois da sua chegada

No cumprimento ao labor

Não pode haver demora

E não escuta clamor

É mouca para pedidos

É insensível a dor

Pra dar conta do recado

Faz o que preciso for

Da volta de sua foice

Nunca houve desertor

Também o seu contemplado

Não apresenta pavor

Pois vê que não há remédio

Para tão cruenta dor

Reconhece seu destino

É sina do pecador.

II

O homem, por sua vez,

Exerce certo poder

Certo momento na noite

A morte não pode ver

Meia noite um portal

Tudo pode acontecer

A meia noite em ponto

A morte nada prevê

Se o portal é aberto

Nada há de fenecer

Há a imortalidade

E não há o que temer

E a morte sabe disso,

Mas ninguém pode saber

E quem isso descobrir

Não pode nada dizer

Pois quem insultar a morte

Dessa forma proceder

Corre o risco fatal

De por isso merecer

Que morte lhe cobre caro

Como pode receber

Levando então a vida

Que não quis compreender

Que o mistério da morte

Não se pode conhecer

E quem assim insistir

Sem uma razão de ser

Desvendar o tal mistério

Pode na hora morrer.

III

Este romance atesta

A morte incompetente

O portal da meia noite

É o momento pendente

E a imortalidade

Chega e fica presente

Tudo que se inicia

Na hora, exatamente,

Pode chegar ao final

Dizendo tudo que sente

Falando mesmo da morte

E seu poder inclemente

Da sua incompetência

Seu momento displicente

Quando perde seu poder

Deixando de ser valente

Que nada atingirá

Todo e qualquer vivente

Porque está protegido

Pela oração recente

Que rezara a meia noite

Sendo assim coerente

A regra que mantem vivo

Aquele que é prudente

E antes de revelar

O mistério contundente

Do elevado poder

Vindo do Onipotente

E que o portal da noite

Desbasta e deixa rente.

IV

A meia noite em ponto

Tudo para um instante

Nessa hora ninguém nasce

Tudo fica sem mandante

Também não morre ninguém

A morte fica distante

Recolhida a dar balanço

Do seu serviço constante

Sua produção diária

Que não é extravagante

Também não pode ser tímida

Contudo, é o bastante

Incumbência adquirida

Pelo olhar Dominante

Que lhe julgou justiceira

Com regra sem variante

Dona do beijo final

Dado em voo rasante

Finalizando o que somos

Tira excesso de gigante

Acresce parte ao pequeno

Conserta o mais errante

Deixa tudo na medida

Tudo na mesma constante

Com ela não há remédio

É péssima negociante

Não há conversa, desdobro,

Oferta que a encante

Não dá viagem perdida

É sempre a triunfante.

V

A morte não pode ouvir

Que se diga sobre ela

Porque é fiel na crença

De que nunca se esfarela

O seu poder matador

Como o furor da procela

Se acha encantadora

Indispensável donzela

A dona do passaporte

Que leva todos à cela

Estando sempre a postos

Como guarda em sentinela

A fim de não dispensar

Qualquer um que estatela

E comete impropério

De cair na esparrela

E se fazer um motivo

De início da novela

De que isso ou aquilo

Foi a última parcela

Para fim triste, cruel

Julgamento de querela

Só o final prometido

Que nem choro e nem vela

Não comove, não convence,

Cumpre o serviço dela

Com sua foice certeira

Com seu beijo que congela

Destino desconhecido

Embarcado em caravela.

VI

Não há maior covardia

Fazer e não assumir

A morte tem feito isso

Sempre procura fugir

Deixando a culpa final

A quem quiser presumir

Sobre os feitos finais

Do que está a partir

E nunca, nunca a morte,

Motivo a perseguir

Sempre há um intermédio

Que não há como fugir

Assim ela quer que seja

Assim ela faz sentir

Mas a verdade exata

É ela a iludir

O vivente até a hora

Chegada para subir

Ela fingindo demência

Porque sabe bem fingir

Desce foice na cabeça

Sem dizer e sem arguir,

Sem tempo para conversa

Seu serviço é agir

E na hora da desgraça

Não há porque aturdir

É a morte audaciosa

Nada lhe faz retrair

E quando vem nunca soma

Só sabe subtrair.


AS DESGRAÇAS

I

Só a morte trará cura

Ao vírus da maldição.

Cólera devastadora

Rico, pobre e pagão

África e oriente

Pois não fará distinção

Transmitida pela água

Terá cura, salvação,

Mas o rastro será negro

Lembrado por geração

E ninguém esquecerá

Tamanha destruição

Até um dia voltar

Sem meios de contenção

Sem remédio, piedade,

Pra dizimar a nação

AIDS enfraquecerá

Centena, até milhão

Será grande o castigo

É a maior punição

É o rastro de Sodoma

Pela prostituição

Doença em potencial

Matará com precisão

Tudo isto em pouco tempo

Sem nenhuma explicação

E gente escravizada

Irmão vendendo irmão

Trará febre amarela

A forma de punição

II

A peste apressará

Em tomar a direção

Para dar um fim às sobras

Selar a destruição

Por insetos pequeninos

Será sua transmissão

Não há como fugir deles

Maneiras não haverão

De escapar dessa peste

Que prende a respiração

Efeitos destruidores

Essa peste traz na mão

Voltará impiedosa

E não terá compaixão

E sintomas inclementes

É esta a descrição

Virá então a fraqueza

Afetará o pulmão

Matará, sem outro jeito,

Sem cura, sem compaixão

Para matar devagar

Atacando o pulmão

Passará de pai a filho

De irmão para irmão

Jamais a cura virá

Jamais virá salvação

Quem dela estiver tocado

Se pegue com oração

Se recomende a Deus

Entregue seu coração.

III

Pestes de todos os tipos

A todos infestarão

As caravelas, as naus

E toda embarcação

Levadas de lado a lado

De nação para nação

Seja nos portos ou ruas

Onde se estende a mão

Tavernas e lupanares

Casas de escuridão

E toda sorte de peste

Sem cura, sem salvação,

E levada pelo vento

E pelas folhas do chão

E por tudo que tem vida

Trará na respiração

Vírus aos montes mortais

Sem qualquer explicação

Sem meios que paralise

Toda a proliferação

Para que não se espalhe

Sem respeitar posição

Sem separar o mendigo

Do abastado barão

Sem separar o letrado

Do pobre sem instrução

Sem separar a criança

Inocente na questão

Do homem já desregrado

Senhor da depravação.

IV

Pelas pragas, pelas pestes,

Causando destruição

Dizimar-se-ão colônias

E reinados ruirão

Fortunas tomarão fim

Títulos se perderão

Será homem, simples homem,

Quem um dia foi barão

De famílias inteiras

Resta um na solidão

E casas cheias de vento

Silêncio, escuridão,

Abandonadas da gente

Que lhe teve devoção

Mas a peste não deu trégua

E levou sem compaixão

Um a um, deixando só

Tristeza, desolação,

Vento batendo janelas

Folhas secas pelo chão.

E a presença maldita

Pragas de infestação

Que dez anos levará

Matando os que virão

De moleza pelo corpo

De fraqueza no pulmão

Passando de um em um

Qualquer seja a posição

Matando sem ter medida

Como fosse maldição.

V

O mundo que conhecemos

O nosso planeta Terra

Envolto está em desgraça

Fome, morte, peste, guerra,

No comando do iníquo

Vale, o sertão, a serra,

Chegando o fim dos tempos

Quando seu poder encerra

Deus disse uma palavra

Sua palavra não erra.

E o mundo foi entregue

A uma mão que só ferra

A mão que nada produz

A mão que tudo enterra,

Amaldiçoa, atrasa,

Que estraga, que emperra.

Que repele o amor

Distancia e desterra,

Enquanto a vida fica

Um tanto quanto que perra

Onde o fim nunca chega

E a conta nunca cerra

Punindo o devedor

Como quem pune quem erra

Com palmatória perversa

Ou ferro quente que ferra

Um escravo que fugiu

Relembrando sua terra

Onde a tal liberdade

Motivou já tanta guerra.

VI

Chegada de outros povos

Nos lugares se darão

Tentativa fracassada

Qualquer aproximação

Para perder-se contato,

Mas febre, infecção

Resistirá longo tempo

Mais tempo persistirão

E matando sem medida

Muitos à cova irão.

O mal estará disposto

Por toda a amplidão

No ar, na terra, no mar,

Solto na imensidão

Ninguém estará seguro

Seja no ar, ou no chão,

E mesmo que isolados

Assim mesmo sofrerão

Não se pode isolar

O ar que respirarão

E filhos longe dos pais

Pouco tempo ficarão

E pessoas conhecidas

De cumprimentar-se hão

E o mal resistirá

De nação para nação

Levado por toda parte

Por bens se propagarão

E assim perdurará

Geração por geração.


AS PROFECIAS

I

Um profeta surgirá

Não errará previsão

Por entre tripé de cobre

Verá a destruição

Predirá os grandes reis

Que por anos tomarão

Os povos e seus destinos

Agarrados pela mão

Preverá quedas de tronos

Surgimento de nação

Batalhas entre poderes

Injusta perseguição

Morte de autoridades

Por estranha invenção

O nascimento daquele

Que trará destruição

Seu nome poderoso

E feroz como leão

Será um predestinado

Com discurso, com ação

Fará tão grande estrago

Barulho e confusão

Tomará reinos e tronos

Mas nunca chegará não

Ao reino que mais deseja

Alvo de enganação

E o seu rei partirá

Dentro de embarcação

E em frota inimiga

Salvará sua nação.

II

Quando homens pretenderem

Descobrirem, desvendar,

Cada mistério divino

Constelação estrelar

Quando tudo conhecerem

E quiserem governar

E quando a invenção

Puder ao homem chegar

E deixa-lo bem mais próximo

Do que se quer conquistar

Haverá bulas, decretos,

E assim não poderá

Provar sobre os seus feitos

Pois o rei perseguirá

E sobre tais descobertas

Ele haverá de negar

No entanto, no futuro,

Tudo há de clarear

As descobertas aceitas

Bem mais fácil de provar

E os nomes mais antigos

Hão de se glorificar

E só então o Rei dos reis

Enfim reconhecerá

Por entre o seu principado

O Rei dos reis julgará

Como certo o desbravador

Que há naquele lugar

Envergonhou-se um dia

Para desacreditar.

III

Reinado e poderio

No governo for perdido

E quando a grande rainha

Ver todo o acontecido

E demonstrar em batalha

Um seu furor desmedido

Com coragem, valentia,

Que jamais há cometido

Sobre um rio passar

Montada, sem alarido,

Levada por inimigos

A um lugar concebido

A dar-lhe a vida fim

Por ferro há pouco fundido

Em invenção engenhosa

Com pouco estudo envolvido

Dividindo em duas partes

Um corpo só destemido

Capaz de grandes feituras

A morrer sem um gemido

Para não marcar o tempo

Alegando o seu bramido

Por fraqueza ou covardia

Como faz o corrompido

Depois de tanto trair

No final se ver traído

No momento derradeiro

Chega ao fim merecido

Dureza humana falha

Foge à luta o desvalido.

IV

E nascerá grande chefe

Que a muitos iludirá

Homens maus o vão seguir

A fim de sempre lucrar

Querendo sempre ter vez

Grandes nações chefiar

E ele, com elegância,

A tudo acolherá

Apresentará ao mundo

Seu jeito de governar

Grandes marchas de seus pares

Chefe reconhecerá

E tem o seu nome escrito

Onde não se perderá

No livro das profecias

Mais longe pode avistar

Mas registros destruídos

Quase nada a salvar

A grande revelação

Escondida num lugar

Em braço interessado

Viu, creu e pode esperar

A vaidade tamanha

Não lhe deixou enxergar

Que a sua profecia

Estava em outro lugar

E na página que quisera

Com um marcador, marcar.

Quem morreu no casamento

Ninguém não encontrará.

V

Conflitos tantos virão

Será entre continente

Potência mais elevada

Tombada terrivelmente

Repetida ocorrerá

Será prova contundente

Tudo o que sobe, desce.

Foi assim no Oriente

O mesmo acontecerá

Fica fraco o Ocidente

Haverá perseguição

Um a um, inutilmente,

E o mar será o campo

Da batalha divergente

Um deles será vencido

Pela penúria frequente

Mas no conflito armado

A questão mais recorrente

É que a humanidade

É o maior oponente

E milhões morrem na guerra

Envolvidos fatalmente

Enrolados em bandeiras

E o sangue inocente

Lavando os ideais

Daqueles que simplesmente

Dão o nome em acordos

E sempre publicamente

Dizem salvar suas pátrias

Mas não dão um passo à frente.

VI

Assim previu o vigário

Na sua revelação

Tudo foi apresentado

Em noite de oração

Após o jejum diário

Quebrado na comunhão

Estando vigário em êxtase

Com os joelhos ao chão

Prostrado com muita fé

No santo da devoção

E previu o fim dos tempos

Como adivinhação

Alerta a humanidade

Sobre tal destruição

Trazendo, pois, um recado,

Do autor da criação

Ou o mundo se redime

E pratica a gratidão

Reconhece no Justíssimo

Seu Poder e Retidão

Ou se usará a força

Da autodestruição

Onde a própria natureza

Não usará compaixão

E em grandes terremotos

Países abalarão

E vulcões adormecidos

Todos em erupção

Dirão ao mundo inteiro

Sobre a grande Criação.


O HOMEM

I

Homem com sua maldade

Fez Deus se entristecer

Querer acabar o mundo

E para assim proceder

Fez um dilúvio de águas

Para a Terra padecer

E destruiu seres vivos,

Mas depois de recolher

Sementes em uma arca

Para depois florescer

No mundo novo previsto

Haveria de nascer

Quarenta dias passaram

Parecendo anoitecer

O sol não pode brilhar

Jamais parou de chover

Depois de quarenta dias

O sol pode aparecer

Um corvo saiu da arca

Voltou sem nada dizer

Depois saiu uma pomba

Voltando com parecer

Um galho de oliveiras

No bico trouxe a pender

E saindo novamente

Puderam então entender,

Que encontrara lugar

Para o seu pouso fazer

As águas estavam baixas

Nova terra já se ver.

II

Deus prometeu ao Homem

Nunca mais acabaria

Sua criação com água

E a Sua garantia

Arco pendente no céu

Visto só na luz do dia

Para o mundo admirar

Depois que a chuva caia

Sinal da sua aliança,

Do pacto que ali fazia,

E com água, novamente,

Nunca mais destruiria

Plantas, homens, animais,

Assim asseguraria

A vida seguiu a diante

Em sublime sintonia

Até o homem, de novo,

Escolher com anarquia

O caminho da desordem

Onde o mal principia

Sem as promessas divinas

E sem a sabedoria

Que só de Deus pode vim

Porque só Deus poderia

Ter tudo e saber de tudo

Porque só Deus tudo cria

Em favor da humanidade

Que pouco acreditaria

Bondade e amor divinos

Que só de Deus surgiria.

III

E sem o amor de Deus

Morre a humanidade

Pois não vive quem não ama

E quem cultiva a maldade

E quem pratica o mal

Cultiva a crueldade

E quem difama o próximo

E quem não tem piedade

Quem mata o seu irmão

E quem não diz a verdade

Pois é o pai da mentira

O mesmo da falsidade

E quem não tem compaixão

Por quem tem necessidade

E quem não anda ao lado

Da honra e honestidade

Quem não ajuda o outro

Não pratica a caridade

Quem passa a vida inteira

Sem dar oportunidade

De um pobre seu irmão

Que vive na orfandade

Sem esperança, sem pão,

Sem crença na divindade

De ver Deus e Seu Amor

Cada gesto de bondade

Nas atitudes do homem

Que pratica a equidade

Divide e compartilha

Promove a felicidade.

IV

E o homem sem sossego

Alvo de enganação

Não confiará no outro

E não reconhecerão

Nem parente, nem amigo,

Nem pai, nem mão, nem irmão

Cada um será por si

Nunca se entenderão

Uma Torre de Babel

Será grande confusão

Onde ninguém se entende

Todos muito sofrerão

As vidas serão ceifadas

E muitos se perderão

Aos mortos, o sofrimento

Chega ao fim, foi salvação;

Aos que praticaram mal

Esses sempre pagarão

O mal que perseguirá

Geração em geração

Enquanto existir alguém

Carregará maldição

Adquirida do sangue

Derramado do irmão

Assim perdurarão anos

Séculos atravessarão

O mal não há de esquecer

Tantos anos passarão

Só Deus poderá salvar

E trazer libertação.

V

Sendo o homem feliz

Na frequência do amor

Poderá fazer milagres

Tanto quanto Redentor

Ele disse: "- e maiores!"

E acabava a dor

O amor leva a Deus

Nosso Pai e Criador

Que vê nosso coração

Nosso Deus e Senhor

E sem Ele não há paz

O mundo fica sem cor

Não há a quem recorrer

Na angústia, no clamor,

A vida perde o sentido

Só desordem, só temor

E o mal chega aos lares

Aonde o homem for

Não terá mais esperança

E tudo será pavor

Assim é viver sem Deus

Uma vida de horror

Ganância e escassez

Mesmo com tanto labor

Pois sem Deus o homem nunca

Será nada promissor

Deus é início e fim

Só Ele é protetor

Vida e homem sem Deus

Tudo perde o valor.


O INÍQUO

I

Desde o primeiro pecado

A primeira tentação

Deus entregou ao Diabo

Toda essa dimensão

Tudo nas mãos do tinhoso

Que espalhou maldição

Que deu caminhos ao homem

Para sua perdição

Mas não conseguiu meter-se

Por dentro do coração

E o deus que há no homem

No modo intuição

Até Deus receber tudo

Toda a sua criação

E trazer a todos nós

A glória da salvação.

Sem resquícios de maldade

Sem traços de perdição

Para assim reinar a paz

O amor, a compaixão,

A caridade que faz

Um do outro sempre irmão

E filhos do mesmo Pai

E na mesma devoção

Unidos numa só voz

No Deus da libertação

E a verdade, o lema

Justiça e gratidão

Caminhando de mãos dadas

Permeie toda nação.

II

Haverá o desrespeito

De irmão contra irmão

E gente comprará gente

Desconhecendo razão

Atendendo a desejo

De poder e ambição

Com o fim de produzir

Riqueza em extensão

Gente tratada por bicho

A fim de escravidão

Aqueles a quem Deus fez

Irmão servir a irmão

E com quem devia ter

Mais perfeita união

E o homem então fazendo

Sua própria divisão

E dividindo por raça

Por poder, por posição

Tirando de outras tantas

A parte na Criação

Tratando por objeto

Sem qualquer estimação

Vendendo por qualquer preço

Não há preocupação

Para estimar valor

Eis a avaliação

Dentes saudáveis e brancos

Única coisa então

Braços fortes, corpo firme

Que por outra coisa não.

III

E comprados como peças

Sem a consideração

De família, de parente

Ou outra qualquer questão

Serão assim divididos

Para longe partirão

Sem saber pra onde partem

E aonde chegarão

Comprados por baixo custo

Para a maior produção

Riquezas para seu dono

Que com chicote na mão

Ditará o certo ritmo

Da roda presa ao chão

Da lenha que faz o fogo

Fervilhar o caldeirão

Do engenho e do moinho

Para a fabricação

Dos doces das fartas mesas

Que só ricos sentarão

A tomar suor alheio

Alegando a posição

E assim chicotear

As costas do seu irmão

E dá ainda mais força

A mancha da escravidão

Assim correrá o tempo

Sem pressa, sem lentidão

Do mesmo jeito de sempre

E desde a Criação.

IV

Porque o rei que governa

É o pai da injustiça

É ele quem alimenta

A inveja e a cobiça

Os piores sentimentos

Que a todos enfeitiça

O mal da humanidade

Um contra outro atiça

Toda forma de desgraça

Neste mundo aterrissa

Pois para fazer o mal

Não se encontra preguiça

O homem fica tentado

Se encanta, se eriça,

Finda sendo agarrado

Por garras que só enguiça

Onde o mal é imenso

A vela do bem não iça

Onde só o mal navega

Como a mais leve cortiça

E o mal se faz caminho

É a mais certa premissa

Onde o mal tudo queima

E planta nenhuma viça

Só o mal pode existir

Se já não há a justiça

Onde Deus não estiver

Também a paz é omissa

Todo tipo de maldade

Uma a uma se plissa.

V

Enquanto tiver o mundo

Com maligno na chefia

A Terra não terá paz

Nem amor, nem harmonia

Irmão matará irmão

Sobrinho matará tia

Tudo será desacordo

Contenda e covardia

E jamais haverá glória

Não pode haver alegria

A treva apagará

Luz que define o dia

E tudo será escuro

Tudo feito noite fria

Sem o calor que aquece

Sem claro que irradia

Sem esperança que é

Do homem o maior guia

Sem o sonho que eleva

Onde se inicia

A vida e seus encantos

Vindo dia-após-dia

Sem a fé e sem a crença

Que há tanto se temia

O fim da humanidade

Sem amor, é anarquia,

Pois tem governo no mal

Que destrói, que avaria

E onde jamais se viu

O todo sem harmonia.

VI

E assim será o mundo

Enquanto O Criador

Se fizer tanto distante

Escolha do pecador

Que desagrada, que fere,

A honra do seu Senhor

Que nega sua promessa

Que dispensa seu valor

E que iludido toma

Cálice do dissabor

A fim de fazer o mal

Praticando desamor

Desconhecendo irmão

Na diferença de cor

Fechando seu coração

Sendo sensível a dor

Ferindo irmão de morte

Pelo motivo que for

Metendo medo no fraco

Levando cena de horror

Por causa da injustiça

Do poderio opressor

Que tira de quem não tem

Sem dá ouvido a clamor

Leva miséria profunda

Irmãos da fome e da dor

Só partirá o iniquo

(por ordem superior)

Quando chegada a hora

Tempo do Nosso Senhor.


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